terça-feira, 19 de novembro de 2013

Diário da Noite, 04 de Maio de 1950

OBRAS DE VILLA-LOBOS

Coube ao maestro Heitor Villa-Lobos, regendo a Sinfônica do Rio de Janeiro, a primazia de abrir a temporada de concertos deste ano na capital da República. A obra de estréia foi o seu primeiro Concerto para piano e orquestra, tendo como solista o virtuose paulista Souza Lima. Foi, como não poderia deixar de ser, um sucesso, uma consagração.

Esse concerto de Villa-Lobos foi apresentado ao público, pela primeira vez, há cerca de três anos pela pianista canadense Ellen Ballon, em recital levado a efeito na capital da República. É que o maestro patrício dedicara sua obra à aplaudida virtuose e ela, como homenagem, executou-a para a culta platéia carioca obtendo sucesso absoluto e aplausos incondicionais de toda a crítica.

A propósito, segundo notícias que nos chegam, essa obra de Villa-Lobos vem de ser gravada em disco na Suíça, pela própria Ellen Ballon, acompanhada pela Orquestre de la Suisse Romande, sob a regência do maestro Ansermet.

A publicação “The News Records”, consagrada à música em gravações, insere, num de seus últimos números, notícia sobre o lançamento, no mercado dos discos, contendo aquela importante obra do nosso consagrado compositor. Diz, a propósito, “The News Records”:

Não obstante andar pela casa dos mil o número de composições do mestre brasileiro, temos aqui o seu primeiro concerto para piano. Sendo um compositor prolífico da música para piano, só e em combinação com orquestra, Villa-Lobos, no entanto, não havia escrito um Concerto para piano, do tipo formal, até 1945, quando completou esta sua obra, dedicada a Ellen Ballon, a presente solista, a quem ele conheceu em Nova York naquele ano. O concerto é característico de Villa-Lobos, de acordo com o que conhecemos de sua produção anterior. Em suas obras há qualquer coisa de único e pessoal, indicando não só que são dele, como ainda que são produto do Brasil, cujo espírito está sempre presente em toda a música de seu maior compositor.

Traço distintivo desta obra é a sua estrutura formal, distintivo que falta a tantos de seus trabalhos mais importantes. Aqui, encontramos uma obra cheia de unidade que não decorre apenas do uso que nela é feito à forma da sonata tradicional, mas também do controle incessante do material temático e da coerência do ritmo. O que há nisso de admirável é a originalidade e outros predicados de natureza semelhante.

Ernest Ansermet
Não havendo bases para comparações, limitamo-nos a asseverar que a presente execução é colorida e cheia de vibração. Ellen Ballon possui uma técnica formidável, o que lhe permite vencer, com relativa facilidade, as dificuldades da partitura. Quanto ao regente Ansermet, diga-se que trata as saborosas fórmulas rítmicas da partitura orquestral com sua perícia habitual.

Aí estão apreciações que nos deixam orgulhosos. Se Villa-Lobos, nesse seu primeiro concerto, provoca comentários da crítica estrangeira cem por cento favoráveis como esse, para as suas futuras partituras, destinadas ao piano e orquestra, é de augurar-se aplausos, senão mais calorosos, ao menos semelhantes.

Na foto: As páginas musicais de Villa-Lobos começaram a interessar as grandes firmas gravadoras. Além do Concerto nº1 para piano e orquestra, ao qual fazemos referência na crônica de hoje, outras gravações existem, as quais comentaremos proximamente.

Nenhum comentário:

Postar um comentário