segunda-feira, 18 de novembro de 2013

Diário da Noite, 12 de Abril de 1950

GIGLI, BARÍTONO!

Poderia parecer engano dizer-se que Beniamino Gigli gravou o Prólogo de Os Palhaços, de Leoncavallo. Mas não há engano algum. Por inacreditável que pareça, Gigli gravou mesmo a referida partitura, que como se sabe, é destinada às vozes de barítono. Se o procedimento do famoso cantor, levando à cera, em sua voz, uma ária que não se casa bem com ela, afeta ou não a sua reputação artística, ou se a engrandeceu, não nos é lícito indagar. O que nos cabe é apreciar o disco em si. O que é certo, porém, é que ninguém dará a essa gravação o lugar da de um barítono, tal é a propriedade com que é tratada por Beniamino Gigli, atestando ainda uma vez, a capacidade do insigne cantor e proporcionando ao colecionador um magnífico número de curiosidade artística. Aliás, recorda-se que Caruso tinha essa mania de gravar partituras de barítonos, forçando a sua bela voz de tenor. Ele gravava e, depois, mandava destruir as matrizes. Algumas dessas gravações, porém, verdadeiras raridades, ainda existem e, segundo se anuncia, vão ser regravadas.

Beniamino Gigli
Na face oposta do disco, Gigli canta uma alegre e melodiosa valsa da velha opereta vienense Gasparone, intitulada Valsa da Felicidade. Para sermos francos, não gostamos dessa face. Gigli desmente o título da valsa, pois não foi feliz. Não é o seu gênero.

O selo do disco, que é Victor, bastante lacônico, não menciona qual a orquestra que executa o acompanhamento. Ao que conseguimos saber, porém, se trata da Orquestra do Estado da Prússia, o que vem evidenciar que a gravação foi feita ainda quando o fascismo predominava na Europa.

Como vimos, não se trata de uma gravação recomendável. Talvez valha como simples curiosidade.

NOTÍCIAS

Acaba de ser editado, em Nova York, um livro de real interesse para os colecionadores: Collector’s Guide to American Recordings from 1895 to 1925. Estão incluídos, nesta preciosa obra, desde os primeiros “cilindros” de Edison até os sensacionais Long Playing. – Dalva de Oliveira, que há tanto tempo não gravava, estará presente, soberba como sempre, no suplemento Odeon para maio, cantando Olhos Verdes e Tudo Acabado, dois interessantes sambas. – A Columbia gravou, recentemente, o Concerto nº2, para piano e orquestra, de Franz Liszt, na interpretação do pianista Witold Malcuzynski, acompanhado pela Orquestra Filarmônica de Londres, dirigida por Walter Susskind, gravação essa que estará presente ao suplemento de maio. – Waldir Azevedo, o criador de Brasileirinho, nos promete outro grande solo de cavaquinho, em Cinco Malucas, gravado pela Continental. – A Capitol, brevemente, inaugurará sua fábrica, que está sendo montada no Rio de Janeiro.

Nenhum comentário:

Postar um comentário