terça-feira, 19 de novembro de 2013

Diário da Noite, 13 de Maio de 1950

DISCO SUPORTÁVEL

O conjunto orquestral de Roberto Inglez é, talvez, juntamente com o de Peter Yorke, o mais divulgado dos conjuntos modernos ingleses. Enquanto que na orquestra de Peter Yorke o regente faz destacar o sax-alto de Freddy Gardner, um dos mais perfeitos sax-altos do mundo, no conjunto de Inglês é ressaltado o piano, dedilhado pelo próprio regente. A peculiaridade do piano de Roberto Inglez é a sua predileção pelas oitavas graves, o que, afinal, embeleza sobremaneira as suas gravações e dá ao conjunto característica personalíssima, toda especial.

Essa orquestra britânica nos deu, não faz muito, o samba Rio de Janeiro e o bolero Três Palavras, em disco Odeon, e o chorinho de Ernesto Nazareth, Dengoso, em gravação Parlophone, ainda não editada no Brasil pela Odeon, que representa aquela etiqueta. Os dois discos foram objeto das melhores referências de nossa parte, como devem estar lembrados os leitores. Agora nos chega às mãos outro disco da homogênea orquestra na interpretação de Again e El Manisêro.

Embora seja um disco gravado recentemente, o seu nível é bem inferior aos anteriores. Especialmente pela face de Again, cuja melodia é irritantemente arrastante e monótona. Salva-a o piano de Inglês. A face onde está gravada a conhecida rumba de Moisés Simon é mais interessante, embora o ritmo de rumba a ela emprestado pelo conjunto seja um tanto curioso, essencialmente inglês... Todavia, o piano de Inglês, que usa e abusa das teclas negras do instrumento, nos apresenta um solo muito bonito, digno de um elogio.

Casa Ricordi
Como só agora é que a orquestra de Roberto Inglez está sendo popularizada entre nós e já conta com elevado número de fãs, é de esperar-se ainda boas gravações suas, pois, ao que tudo indica, o conjunto melhora dia por dia. Dengoso, por exemplo, gravado posteriormente a Again é muitos pontos superior.

Zequinha de Abreu
O disco, assim, é apenas suportável. Especialmente pela face de El Manisêro.

Na foto: José Gomes de Abreu – ou simplesmente Zequinha de Abreu, como é, agora, conhecido mundialmente – é autor de um sem número de músicas, entre chorinhos e tangos brasileiros, cujo valor só agora está sendo avaliado, especialmente fora de nossas fronteiras. O rumoroso Tico-Tico no Fubá, o balanceante Pintinhos no Terreiro, o agradável Dengoso e outros brotaram de sua exuberante e saudosa pena. O primeiro mereceu a honra de ser gravado por famosos conjuntos e artistas de todo mundo, inclusive pela Orquestra Pops, de Boston. E o segundo, agora, mereceu carinhosa gravação da aplaudida orquestra de Roberto Inglez, do Savoy Hotel, de Londres.

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