quinta-feira, 21 de novembro de 2013

Diário da Noite, 15 de Junho de 1950

SURPRESA AGRADÁVEL

Fernando Fernandez, depois daquele seu sucesso com o bolero Hipócrita, que é de sua criação, dispensa qualquer apresentação. O famoso bolero de Carlos Crespo, sem dúvida alguma, abriu-lhe um lugar em todas as discotecas, posto que foi uma das gravações mais vendidas ultimamente. Todavia, como tivemos ocasião de dizer, quando do lançamento do disco, o tratamento que Fernando Fernandez deu à Hipócrita não foi dos melhores, primando pela discreção. Dada a sua voz interessante, todavia, o disco mereceu os mais francos aplausos do público, apesar de outras gravações melhores de Hipócrita existirem.

Pois Fernando Fernandez vem de reaparecer, agora, no suplemento Victor, cantando dois melodiosos boleros: Diez Minutos Más e Que Más Puedo Desear. São duas gravações executadas antes de Hipócrita, convém frisar. E Fernando está superior em ambas as faces. Mais desembaraçado, cantando com calor e profunda expressão, dando à voz uma liberdade que não se atrevera a proporcionar em seu disco posterior.

Fernando Fernandez
Não sabemos se pelo fato de o bolero Diez minutos Más ser por demais batido, especialmente pela gravação de Gregorio Barrios, a realidade é que é precisamente o lado B do disco, isto é, a considerada de nível mais baixo pela gravadora. Isto não quer dizer, entretanto, que o jovem vocalista esteja mal na face A. Aqui, como no lado oposto, como dissemos, ele se porta com frisante desenvoltura, o que muito nos agradou.

O acompanhamento está a cargo de um grande conjunto orquestral. Não se pode negar seja um acompanhamento magnífico.

Não ofuscou nem encobriu a voz do cantor em nenhum instante, do primeiro ao último sulco de ambas as gravações. Pelo contrário, de tal maneira discreta se portou a orquestra que o vocalista constitui o “dono” completo do disco. Todavia, é de observar-se o solo orquestral entre os versos, especialmente na face Que Más Puedo Desear. Digno de aplausos.

Trata-se, portanto, de um bom disco do repertório popular internacional da Victor.

Rádio Tupi, Diário de S. Paulo, 1/1/50

Na foto: Uma soberba conquista da Elite: Maria da Luz, “o coração de Portugal”. Com efeito, Maria da Luz é uma intérprete de reais predicados não apenas vocalizando melodias de sua terra como das do campo internacional. Tivemos ocasião de ouvir várias provas de gravações suas para a novel gravadora, como Falsas Paixões, Saudades de Portugal, Fado Hilário e Cabana, este último um samba bem brasileiro, em que foi acompanhada por grande orquestra, e constatamos a justiça do seu renome de artista internacional. Gostamos muito da sua interpretação no fado Saudades de Portugal e no samba Cabana, especialmente neste, em que demonstra perfeita noção de ritmo.

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