quinta-feira, 21 de novembro de 2013

Diário da Noite, 16 de Junho de 1950

DIGNO DE NOTA

Caprichou a Odeon, desta feita, mais que das outras vezes, na organização do seu suplemento de novidades para o próximo mês de julho. Se a parte internacional do suplemento, na qual vamos encontrar artistas de renome internacional como Carmen Cavallaro, Emille Prund’Homme, Rafael Mendes, Dick Haymes, Adelina Garcia, Osvaldo Norton, o tenor Nicolás Urcelay, Alfonso Ortiz Tirado, Yves Montand, Luciano Tajoli, Victor Young e outros, é digna de nota, a parte nacional, apesar de sermos contrários aos superlativos, está simplesmente espetacular. Aqui vamos encontrar cartazes como Francisco Alves, Norma Ardanuy, a querida estrela das Emissoras Associadas de São Paulo; Risadinha, outro artista de São Paulo; Dalva de Oliveira, com a sua voz impressionante; Alcides Gerardi, o Coro dos Apiacás, os Vocalistas Tropicais e as orquestras de Carioca e de Oswaldo Borba.

Papagaio! Não será muito para um só suplemento?

Ouvimos as provas de todas as gravações que fazem parte da relação em apreço. Confessamos que, de todas, da parte nacional, nos impressionaram mais as constantes do disco de Alcides Gerardi.

Alcides Gerardi
Não faz muito, ao analisarmos uma gravação de Alcides Gerardi, sob a responsabilidade do selo Odeon, tivemos ocasião de criticar seriamente a direção da gravadora por haver permitido que o rapaz, dono de uma bonita voz, gravasse um samba de nível inferior, quer na parte musical quer na literária, especialmente nesta, cuja letra primava pelas expressões rasteiras, próprias de malandros e desclassificados. Agora, entretanto, Alcides Gerardi retorna com dois bonitos números: Maria, o expressivo e antigo samba de Ary Barroso, há tempos gravado por Francisco Alves e por Sílvio Caldas; e Negro, um jongo de Fernando Martins. E voltou infinitamente superior. Vocaliza de forma notável as melodias, especialmente Maria, à qual empresta convincente e sentida interpretação. Impressionante o acompanhamento orquestral de Carioca e seu conjunto e esplêndido o contra-canto do Coro dos Apiacás. A gravação, percebe-se, está isenta de qualquer falha. Técnica e artisticamente perfeita. Os operadores da Odeon, desta feita, brilharam. Tão bem captado pela cera foi o samba Maria, em particular, que se tem a impressão de que a gravação foi executada dentro de um grande templo de acústica perfeita. Observe-se a vocalização do coro e constatar-se á o que estamos apontando. Negro, o jongo que completa o disco, embora de nível inferior a Maria, não deixa de ser uma bela composição, também, como dissemos, otimamente gravada.

Jornal de Notícias, 31-1-50
Lena Horne
Impossível resistir ao impulso de enviar os nossos sinceros parabéns à Odeon, quer pelo seu soberbo suplemento, como pela magnífica gravação que vimos de apreciar.

Na foto: Por mais modesta que seja uma discoteca, dificilmente deixará de ter um cantinho reservado às gravações dessa figurinha simpática e de voz dulcíssima que é Lena Horne. Mulatinha, de traços essencialmente brancos, como nos tem demonstrado no cinema, Lena Horne, em nossa opinião, pode ser colocada na primeira plana da lista dos melhores vocalistas populares dos Estados Unidos. Ultimamente seus discos têm desaparecido dos suplementos nacionais das gravadoras. Todavia, seus fãs não a esquecem e procuram constantemente nas revendedoras sucessos seus, antigos ou recentes, através de “ceras” importadas.

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