sexta-feira, 22 de novembro de 2013

Diário da Noite, 19 de Junho de 1950

NÍVEL ARTÍSTICO

É público e notório que a indústria do disco, no Brasil, já atingiu a níveis superiores. As gravações aqui executadas são tão perfeitas, quanto as melhores do mundo. Talvez leve alguma desvantagem no respeitante à acústica. Não possuímos ainda técnicos em número suficiente nesse setor. Mesmo assim, prodígios são conseguidos, entre nós, na ciência do som. Aliás, fácil será constatar isso. Basta o comparar-se o disco de fabricação nacional e o importado, prensados sob os moldes da mesma matriz. Não há diferença, quase.

Também no setor artístico o nível dos nossos discos é superior. Ultimamente, então, verdadeira revolução está se processando na indústria gravadora no campo artístico. Novos valores surgiram. Conjuntos orquestrais numerosos são utilizados, sendo abolidos os clássicos regionais, com cavaquinho, violão e pandeiro. Custou, mas as firmas gravadoras nacionais compreenderam que para que a música brasileira tivesse aceitação fora das nossas fronteiras era preciso tirar-lhe a roupinha precária e surrada e dar-lhes nova fatiota, casaca, se possível, com grandes conjuntos e orquestrações, a fim de que lhe fossem abertas as largas e luxuosas portas dos grandes salões do mundo.

Clique para ver em alta resolução
A Continental, a Odeon, a Elite, a Victor, dia a dia, procuram melhorar, especialmente a sua parte orquestral. Dessas quatro etiquetas, as mais populares, apenas a Victor, como tivemos ocasião de frisar aqui, por mais de uma vez, insiste em apresentar acompanhamentos com regional. Estamos certos, todavia, que a sua direção artística, depois das críticas de que tem sido alvo, não de nossa parte, que não somos críticos, mas simples amantes do disco, mas da crítica em geral, procurará colocar as suas gravações populares nacionais, no respeitante a orquestras e orquestrações, no mesmo nível das demais gravadoras.

É portanto com indisfarçável prazer que observamos esse desenvolvimento industrial e artístico do disco. Isso demonstra que o nível cultural do povo está melhorando. Já existe o sentido artístico. Seus ouvidos, conseqüentemente, estão mais exigentes. E seu gosto, assim, vai se apurando dia após dia. Tanto é assim, que uma emissora da capital da República, de propriedade da União, também vai explorar a indústria do disco. Ao que se anuncia, porém, os seus lançamentos estão sendo cuidadosamente planejados. Dedicar-se-á exclusivamente à música nacional, carinhosamente escolhida, a fim de serem levadas à cera por renomados artistas brasileiros que lhe darão tratamento caprichoso, especialmente nas orquestrações, que serão feitas por renomados valores, e executadas por consagrados artistas que formarão o grande conjunto da nova gravadora.

Largas perspectivas, portanto, como se vê, estão reservadas à música e aos artistas nacionais. Conseqüentemente, à indústria do disco em nossa terra.

Orquestra Tabajara em 1945, com o Maestro Severino Araújo à direita
Na foto: Iniciativa digna dos melhores encômios a da Continental, ao lançar, dentro em pouco, dois álbuns comemorativos do Campeonato Mundial de Foot-Ball. Nestes álbuns constarão gravações dos hinos e marchas de todos os clubes do rio e de São Paulo – os maiores centros esportivos do Brasil – que fazem parte da primeira divisão. Ouvimos as primeiras provas dos discos que comporão esses álbuns e pudemos constatar da sua perfeição técnica, industrial e artística. Déo, que vemos no clichê (quando ainda tinha vasta cabeleira...) e Jorge Goulart vocalizam as partituras, secundados pelo Trio Melodia e pelo conjunto Tabajara, regido pelo paraibano Severino Araújo. Espetaculares orquestrações.

Nenhum comentário:

Postar um comentário