sexta-feira, 22 de novembro de 2013

Diário da Noite, 20 de Junho de 1950

CANÇÕES NAPOLITANAS

Já tivemos ocasião de tecer considerações sobre a voz e a arte desse admirável vocalista italiano que é Francesco Albanese quando de suas primeiras gravações, para a Cetra, de Milão, lançadas entre nós através da Continental, que mantém um convênio com a aludida firma gravadora peninsular.

A mesma Cetra, agora, vem de lançar mais uma série de discos, com Francesco Albanese, considerado, no momento, o maior intérprete, na Itália, de canções napolitanas da atualidade. O aplaudido vocalista que, ainda há pouco, nos ofereceu uma longa série de audições no Brasil, possui, com efeito, voz e temperamento artístico para a correta interpretação desse gênero de canção popular, cheio de exigências e sutilezas, no qual apenas os grandes artistas, fonograficamente falando, podem satisfazer plenamente.

As canções em número de doze – seis discos – são das mais apreciáveis e constitui uma questão de gosto pessoal indicar qual a que mais agrade, pela sua beleza ou pela interpretação de Francesco Albanese. Algumas, todavia, parecem terem sido gravadas ainda no começo da carreira desse artista, como se pode facilmente notar pelo timbre de sua voz. Entretanto, Albanese nos pareceu melhor em Torna a Surriento e Dicitencello Vuie, onde ele exprime com mais vigor a sua exuberante veia artística, vocalizando com frisante sensibilidade e dando às tradicionais e belas páginas musicais napolitanas, uma das mais sentidas interpretações que, no gênero, jamais ouvimos.

Francesco Albanese
A título de curiosidade, vamos relacionar, aqui, as canções que Francesco Albanese gravou para a etiqueta milanesa e que faz parte do suplemento do mês corrente, anexo ao da Continental, responsável pela distribuição dos discos Cetra. Ei-las:

Nun’a penzo proprio chiú, Nun me scetá, Varca ‘e nisciuno, Tu ca nun chiagne, Senz’odio e senz’ammore, Nuttata ‘e sentimento, Marechiare, Torna a Surriento, Canto ma Sottovoce, Quanno tramonta ‘o sole, Dicitencello Vuie, e, finalmente, Na sera ‘e maggio.

Em todas as referidas canções, Albanese se porta de forma apreciável, como dissemos. Há, todavia, entre as gravadas há muito tempo e as executadas recentemente uma pequena diferença na tonalidade vocal do artista, o que, porém, não desmerece a sua arte, que é superior e digna de admiração. As duas que apontamos, entretanto, sem dúvida nenhuma, são as melhores. Se o leitor, apreciador das canções napolitanas, adquirir todos os seis discos, não tenha dúvida de que estará bem servido.

Francisco Canaro
Na foto: Foi preciso que Canaro anunciasse a sua vinda ao Brasil para descobrir que se encontrava gravemente enfermo. De fato, ao ser examinado, pouco antes de marcar o seu embarque para realizar uma temporada em São Paulo, o facultativo descobriu que o célebre chefe de uma das mais famosas orquestras típicas da Argentina estava com uma série lesão cardíaca, que o impedia de viajar. E foi com tristeza, ao que divulgaram os telegramas, que Francisco Canaro cancelou a sua viagem ao Brasil. Todavia o seu último disco para a Odeon veio e já está presente no suplemento do mês próximo: Naipe e Angelitos Negros, o sentido bolero de Maciste e Blanco, em compasso de tango, são os números que apresenta. Como geralmente, Canaro e sua típica estão magníficos.

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