sexta-feira, 22 de novembro de 2013

Diário da Noite, 22 de Junho de 1950

RETORNO AUSPICIOSO

Quando Carlos Ramirez esteve em São Paulo, já faz alguns meses, propalou-se a decadência artística do famoso barítono. Falou muita coisa mais a seu respeito, o que, evidentemente, não correspondia à realidade. O fato, entretanto, é que Ramirez provocou comentários a seu respeito, pelas noitadas que promoveu e pelas bizarras roupas que vestia, alheio que estava ao ambiente casmurro e de trabalho da metrópole paulistana, que não admite tais exageros.

Entretanto, a decadência de Ramirez não passou de puro boato. Comprova-o a sua recente gravação para a Victor, em nos proporciona duas bonitas canções: Marta, que leva a assinatura famosa de Moisés Simon, autor de El Manisero; e Uno, uma adaptação para canção do tango de Discépolo.

Em Marta, a potente, mas bem graduada voz de Carlos Ramirez está à vontade. A composição de Moisés Simon, das mais inspiradas brotadas da sua preciosa pena, primando pela docilidade, recebe do aplaudido vocalista colombiano, um tratamento digno do seu renome. Sua voz se apresenta com uma limpidez extraordinária, com aquele timbre agradabilíssimo, como todos conhecemos, e com extensão que não encontramos com freqüência em outros vocalistas do gênero. Há um trecho em Marta no qual Ramirez tem a oportunidade de desmentir o que se propalou, sobre a sua decadência. É precisamente na segunda parte, quando dá uma subida de tom, demonstrando assim a sua alta escala.

Diário de S. Paulo, 2/2/50 - Clique para ver em alta resolução

























Uno, o tango que tanto sucesso obteve entre nós, gravado por quase todos os conjuntos típicos e vocalistas argentinos – sendo digna de nota a gravação executada por Tania – adaptado para canção e vocalizado por Ramirez, embora se torne um tanto estanho, recebe do cantor igual tratamento de Marta. Discépolo, com toda a certeza, ao ouvir a sua composição na voz de Ramirez há de ter ficado maravilhado.

Diário da Noite, 10/3/50
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Mas, o curioso desse disco é que Carlos Ramirez, tanto numa face como na outra, vocalizou em inglês e castelhano, seguindo a escola do cantor franco-canadense Jean Cavall que, ao gravar os seus discos, canta em francês e em inglês, para contentar todos os canadenses. Ramirez, assim, contenta os americanos do norte e a maioria dos sul-americanos.

Em resumo, o disco em apreço é dos bons que a Victor costuma apresentar em seu repertório internacional.

Na foto: Se Carlos Ramirez interpreta a canção de Moisés Simon, Marta, Nicolás Urcelay, um dos maiores tenores do México não a desmerece. Pela prova da gravação, que ouvimos nos estúdios da Odeon, verificamos a diversidade dos estilos de Ramirez e de Urcelay. Não poderia ser de outra maneira: um é barítono e outro é tenor. Todavia, a voz de Nicolás Urcelay é tão extensiva e de tonalidade tão agradável quanto a do barítono colombiano. A diferença reside apenas no timbre da voz e no lançamento do disco. Enquanto a Victor vem de lançar Marta, com Ramirez, a Odeon lançará Marta com Urcelay, em princípios do próximo mês. Marta, porém, com o tenor ou com o barítono está ótima. O ideal seria o possuirmos os dois discos...

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