quarta-feira, 20 de novembro de 2013

Diário da Noite, 27 de Maio de 1950

GRAVAÇÕES INTERESSANTES

Vamos apreciar, em nossa nota de hoje, dois discos, por sinal muito interessantes. O primeiro deles é o gravado por Ernesto Bonino, vocalista italiano, cantando dois sambas: Isto é Brasil e Um Cantinho em Você.

Confessamos que foi com reserva que nos dispusemos a ouvir esse disco. Como tivemos ocasião de dizer, por essas mesmas colunas, não gostamos de ver artistas de um gênero, apenas para contentar meia-dúzia de fãs que conquistou à última hora, interpretar coisas fora do seu estilo. E isso porque o desastre é fatal.

Já citamos exemplos ao comentar outro disco, ainda da Continental, gravado por outro intérprete peninsular. Demonstramos que o próprio Tito Schipa, cuja voz invulgar não cansamos de admirar, fracassou muitas vezes ao gravar melodias que fugiam do seu estilo habitual. Um tango, por exemplo, gravado por ele há tempos pode ser tudo, menos um tango, em que pese a sua vocalização primorosa.

Ernesto Bonino
Todavia, Ernesto Bonino nos surpreendeu. Ao colocarmos a agulha sobre a face de Um Cantinho em Você e ele começou a cantar, ficamos espantados ao verificar como o rapaz assimilou bem o ritmo e o estilo langoroso de Dick Farney. Além do mais, ele canta em português, o que deve ter tornado mais difícil a interpretação. Diga-se de passagem que Bonino não “amacarrona” o português, a não ser nos “r” e na palavra “tranqüila” que ele pronuncia tranquila, com o “u” mudo. As demais ele as pronuncia com correção. A face oposta do disco, Isto é Brasil, embora constitua a face A, para nós é mais fraca, ainda que Bonino a ela também empreste boa vocalização e interpretação. Aquele seu “Oba, rapazes!” está uma delícia. Magnífico o acompanhamento orquestral.

O outro disco a que nos referimos é o gravado por Michel Allard, cantando Formidable e Mes Jeunes Anées, ainda para a Continental. Gostamos imensamente da limpidez deste disco, em ambas as faces. A bonita voz de Michel Allard foi captada com rara felicidade pelo técnico, oferecendo-nos, assim, um Formidable muito mais interessante do que o que nos deu Charles Trenet.

Rádio Record - Diário da Noite, 13/3/1950
Ainda neste disco gostamos mais da face B, onde Michel Allard nos pareceu mais à vontade e a melodia, menos vibrátil haver possibilitado ao festejado chansonier demonstrar o seu belo timbre vocal.

Eis aí, portanto, dois discos que se recomendam.


Na foto: Eis uma artista que dispensa qualquer apresentação. De fato, Adelina Garcia, das intérpretes astecas é talvez, a mais aplaudida em todo o mundo. O bolero Hipócrita, que ela gravou para a Odeon, recentemente, obteve venda “record”. Em muitas revendedoras, por sinal, já não é mais possível encontrá-lo.

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