terça-feira, 31 de dezembro de 2013

Diário da Noite, 31 de agosto de 1950

TRECHOS LÍRICOS

A Victor, em suplemento do próximo mês de setembro, incluiu vários discos com interessantes gravações de trechos líricos, nas vozes famosas de Giuseppe Di Stefano, Ferruccio Tagliavini, Zinka Milanov, Kerstin Thorborg e Jan Peerce.

Com o tenor Giuseppe Di Stefano, secundado pela Orquestra Sinfônica de Londres, sob a direção de Alberto Erede, a aludida etiqueta, através do seu famoso selo vermelho, nos oferece, do segundo ato de A Traviata, de Verdi, Lunge da Lei; e na outra face, da Manon, de Massenet, Ah! Dispar, Vision, do terceiro ato.

Na gravação de Ferruccio Tagliavini, considerado um dos mais perfeitos tenores da atualidade, mas que não convenceu em sua atuação na atual temporada, em São Paulo, talvez por indisposição passageira, vamos encontrar, de A Africana, de Meyerbeer, O Paraíso!, do quarto ato; e, na outra face, de A Arlesiana, de Cilea, Lamento de Frederico, do segundo ato. Antal Doráti, regendo a orquestra RCA Victor, é responsável pelo acompanhamento.

Giuseppe Di Stefano
O terceiro disco que focalizamos nestas notas nos apresenta três famosas vozes: Zinka Milanov, Kerstin Thorborg e Jan Peerce. Numa das faces se acha gravada a ária do quarto ato de O Trovador, de Verdi, Misere, com Milanov e Peerce; e na outra, com Peerce e Thorborg, ária Ai Nostri Monti, também do quarto ato de O Trovador. A Orquestra da Ópera do Metropolitano de Nova York executa o acompanhamento.

Todos os artistas que intervêm nas gravações em apreço, de renome internacional, alguns dos quais já conhecidos do público brasileiro, especialmente Tagliavini, Di Stefano e Zinka Milanov, vocalizam as árias mencionadas como só eles seriam capazes. Giuseppe Di Stefano, apesar de ser um dos mais jovens tenores do momento, nos proporciona duas interpretações magníficas, sendo de notar-se a excelência da gravação, sob o ponto de vista técnico.

Kerstin Thorborg
Tagliavini, no disco em apreço, se apresenta, talvez, nas duas melhores gravações da sua vitoriosa careira, principalmente a do Lamento de Frederico, do segundo ato da ópera de Cilea, dada a sua perfeita interpretação e a fidelidade da gravação.

Também no disco em que são apresentados os sopranos Zinka Milanov, Kerstin Thorborg e o tenor Jan Peerce, é dos mais recomendáveis, especialmente pela face do famoso Misere, dada a sua dramaticidade, muito bem realçada pelas bonitas vozes de Milanov e Peerce, coadjuvados pelo Conjunto Coral sob a direção de Robert Shaw.

Ferruccio Tagliavini
Os apreciadores da música lírica não devem deixar de ouvir as gravações em referência. Vale a pena.

Na foto: Leonard Warren é considerado, no momento, o maior barítono do mundo. Encontra-se atualmente no Rio de Janeiro, participando da temporada lírica da capital da República. Warren, segundo as suas notas biográficas, não sabia uma nota musical sequer quando, pela primeira vez, cantou profissionalmente. Mas possuía a música no coração. Tanto assim, que, em 1938, ganhou o primeiro prêmio entre 700 cantores, nas “Audições do Ar”, do Metropolitano, de Nova York, impressionando vivamente os juizes – os mais competentes maestros – com a riqueza e o volume de sua voz. Sua interpretação, em disco, da ópera O Barbeiro de Sevilha, de Rossini, é considerada das mais perfeitas. Com a estada desse exuberante cantor entre nós, é grande a procura de seus discos, especialmente das gravações avulsas das árias Largo al Factotun, de O Barbeiro de Sevilha, e de A Canção do Toureador, de a Carmen, de Bizet, onde ele está magnífico.

Diário da Noite, 30 de agosto de 1950

O FUTURO DO DISCO

Torna-se difícil a previsão do futuro do disco. Com a descoberta do sistema de longa gravação, através dos discos de 33.1/3 rpm, é bem verdade, largos horizontes se descortinam para a vida do disco. Daí a dificuldade em que se predizer o seu futuro, porquanto com o assustador progresso da ciência sabe lá o que será o disco dentro de alguns anos! Entretanto, graças às gravações de 33.1/3 rpm, interessantes iniciativas já têm tido lugar, tanto nos Estados Unidos como na Inglaterra. Segundo notícias publicadas em órgãos especializados, a editora Sound Book Press Society está procurando combinar o livro e o disco, isto é, a imagem e o som, para facilitar a compreensão dos cursos de história da música ou de qualquer outro assunto a ela relacionado. Visa a aludida editora concretizar o sonho que a maioria dos autores modernos embalavam. A primeira obra lançada pela Sound Book Press Society foi The Piano and Its Ancestors, de autoria do organizador dessas edições, o Dr. Felix Guenther. A obra, isto é, o livro, farto em ilustrações, focaliza a história dos instrumentos de corda e teclado. Por outro lado, o disco encerra exemplos de várias categorias dos aludidos instrumentos, em composições de autores representativos de cada um. Segundo as notas que temos em mão, os exemplos mais interessantes são os do clavicórdio e do cravo.

Sigmund Spaeth
A editora em questão está anunciando, para breve, edições subordinadas aos seguintes temas: A Família do Violino, por Sigmund Spaeth; Bach, por Hans Rosenwald; e História da Música de Dança, por Sondra Bianca.[1] Outras obras de palpitante interesse – dizem as informações – estão programadas e serão anunciadas oportunamente.

O mais curioso, entretanto, é o preço de tais obras, isto é, da combinação do livro e disco. Apenas $6,85 ou pouco mais de cem cruzeiros, em moeda nacional. Para pessoas que não possuem rádio-vitrolas com o dispositivo que permita várias velocidades ao prato, a Sound Book Press Society editará as mesmas obras, em quatro discos de 12 polegadas, na velocidade comum, de 78 rom, ao preço de $14,35, ou seja, mais do dobro do custo da combinação livro e disco de longa gravação.

Isso nos Estados Unidos. Na Inglaterra, a organização Gerald Lawrence Production Ltd., cuja etiqueta é conhecida por GLP, vem editando várias das mais importantes obras de Shakespeare, radiofonizadas com inteligência, gosto e absoluto respeito pelo texto original, interpretadas de forma admirável por conjuntos especializados ingleses. Assim, já foram postos à venda álbuns contendo O Mercador de Veneza, Hamlet, Romeu e Julieta, Julio César e Ricardo III, sendo de notar-se os efeitos musicais escolhidos com muito gosto e propriedade, embelezando de maneira notável a obra do maior dos poetas de língua inglesa.


Na França, a Societé Industrielle de Reproduction Sonore, conseguiu a exclusividade da Comédie Française para gravações das mais famosas obras teatrais da França. Assim, já foram levadas ao disco as seguintes peças: L’Avare, de Molière; Horace, de Corneille; Andromaque, de Racine; anunciando-se, para muito breve, Le Misanthrope, Le Jeu de L’Amour et du Hasard e On Ve Badine pas Avec L’Amour.

Gravações de obras teatrais não constituem novidade, já tendo sido realizadas, há anos, até com a célebre Sarah Bernhardt, em trechos de Phédre, de Racine. Em discos de longa gravação é onde reside a novidade, pois tal iniciativa será de grande interesse para o público, quer pelo baixo preço do disco quer pela facilidade, pois um só disco de longa gravação substituirá um álbum inteiro, às vezes com 12 discos! Imagine-se que sucesso não seriam as gravações comerciais das obras interpretadas pelo conjunto, por exemplo, de Walter Forster, das Associadas, um dos mais homogêneos elencos de rádio-teatro do Brasil!

Como se vê, novos horizontes foram rasgados para o futuro do disco, que não se prestará apenas para “enlatar” – como diriam nossos avós – a música, mas o teatro, a cultura, através da palavra dos mestres.

Na foto: As gravadoras nacionais, a exemplo da Columbia, da Victor, da His Master’s Voice e da GLP (Gerald Lawrence Productions Ltd.), na Inglaterra e nos Estados Unidos; e da Societé Industrielle de Reproduction Sonore, da frabça, bem que poderiam realizar gravações rádio-teatralizadas, embora em gravações de 78 rom, das mais representativas obras da literatura nacional e universal. A Continental, é bem verdade, já esboçou alguma coisa com as suas Histórias Infantis. Walter Forster, um dos grandes cartazes do rádio-teatro nacional, se levasse ao disco as suas peças, seria, sem dúvida, um autêntico recordista na venda das gravações.

[1] “Sandra”, no texto, mas acho mais provável que esse livro — que não encontrei em lugar nenhum e não deve ter sido escrito ou lançado — seja da pianista Sondra Bianca.

Diário da Noite, 29 de agosto de 1950

CANTOR DE FUTURO

Em gravações anteriores desse jovem cantor que é Francisco Carlos, embora tenhamos reconhecido nele um vocalista de largos predicados, não lhe fomos favoráveis em nossas considerações. Não que Francisco Carlos tenha cantado mal nas aludidas ceras, mas em face das composições de segunda ordem que escolheu para gravar e nas quais, por cúmulo dos cúmulos, interveio apenas um minguado regional não muito homogêneo, transformando as gravações em algo de padrão bastante inferior.

Foi, assim, com alguma reserva que colocamos no pick-up, para analisar a sua última gravação para a etiqueta Victor. Neste disco, Francisco Carlos gravou, de um lado, Rio de Janeiro, de Ary Barroso, e Anjo da Noite, de Klecius Caldas e Armando Cavalcanti. O samba de Ary Barroso, Rio de Janeiro, como se sabe, foi composto quando o inspirado e fecundo autor se encontrava em Hollywood, sob contrato da Republic Pictures, a fim de escrever o score musical do filme Rio de Janeiro, estrelado por Tito Guízar. O tema principal do aludido score, foi o samba em questão e foi cantado pelo astro do filme, que o gravou, posteriormente, em disco Victor, num tremendo português.

Francisco Carlos
Francisco Carlos, porém, nos reservava uma surpresa. Demonstrou que, secundado por uma orquestra de escol, através de uma orquestração digna dos melhores elogios, canta magnificamente e sua voz e a sua interpretação ganham nova vida, novo colorido, convencendo plenamente e desfazendo toda a má impressão ocasionada pelas suas gravações anteriores. É possível que outro cantor o iguale na interpretação de Rio de Janeiro. Cremos, entretanto, ser difícil superá-lo.

Já a composição Anjo da Noite, samba-canção de Klecius Caldas e Armando Cavalcanti, é de padrão inferior à página de Ary Barroso, embora também seja interessante. Mereceu, igualmente, um tratamento vocal e orquestral cuidadoso por parte de Francisco Carlos e do conjunto que executou o acompanhamento, ao qual a etiqueta não faz qualquer referência, ocultando o seu nome.

Francisco Carlos
Francisco Carlos, com o disco em apreço, se reabilitou perante nós, e, principalmente, perante o público. Demonstrou a sua exuberância vocal e, que é, assim, um cantor de futuro promissor. O disco em questão deve, pro isso, ser ouvido pelos amantes da música brasileira.

Na foto: Francisco Carlos, que nos oferece uma bonita vocalização do samba de Ary Barroso, Rio de Janeiro, na gravação objeto das nossas notas de hoje. Deste mesmo samba, como se sabe, existem outras gravações, entre as quais a de Roberto Inglez e sua Orquestra, para a Parlophone, que foi editada no Brasil pela Odeon, e a de Tito Guízar, para a Victor, que por sinal foi quem gravou em primeiro lugar a bonita composição, porquanto ela fez parte integrante de um filme de que foi o ator principal e que tinha por ambiente a capital da República.

Diário da Noite, 28 de agosto de 1950

HOMENAGEM A SÃO PAULO

No suplemento de setembro da Victor, está programado o segundo disco do novo Trio de Ouro, composto, como se sabe, por Herivelto Martins, orientador do trio; Noemi Cavalcanti, substituta de Dalva de Oliveira, no conjunto; e Nilo Chagas, o colored. Nesta segunda cera do aplaudido conjunto vamos encontrar dois sambas: Paisagem Paulista, que leva as assinaturas de Marino Pinto e Mário Rossi, e O Mar, uma das mais interessantes páginas de Dorival Caymmi.

A composição de Marino Pinto e Mário Rossi é uma autêntica homenagem prestada a São Paulo e ao seu povo, falando das nossas fábricas, do nosso trabalho, do Pacaembu, da Praça da Sé. Trata-se de um samba de cadência vibrante e, portanto, de difícil vocalização para um conjunto. Entretanto, percebe-se, o trio ensaiou de tal maneira o samba que não se nota qualquer obstáculo na interpretação. Pelo contrário, o trio canta Paisagem Paulista com uma segurança de espantar. Noemi Cavalcanti melhorou consideravelmente. Bem diferente da primeira gravação. É provável que o tom, muito alto, em que cantou, haja possibilitado certo esforço de sua parte, observando-se mesmo, em certos momentos, que dá o que pode, o mesmo acontecendo com as vozes masculinas. Isso, entretanto, não prejudica a gravação que pode ser considerada de bom padrão.

Herivelto Martins
Já na vocalização da página de Dorival Caymmi, o conjunto se apresenta mais à vontade. O tom é mais baixo e a melodia mais lenta. O Mar deu ensejo a que Noemi Cavalcanti aparecesse mais. Ela pode, até, considerar-se “dona” da gravação, demonstrando os seus reais predicados vocais, inferiores, é bem verdade, aos de Dalva de Oliveira, mas que merecem uma análise cuidadosa do ouvinte, pois a sua voz é de tonalidade agradável e de relativa potência. Herivelto Martins e Nilo Chagas não apresentam novidades. São os mesmos de sempre. Herivelto, principalmente, que insiste em afetar a sua pronúncia à maneira carioca.

O acompanhamento, em ambas as faces do disco em apreço, foi feito por orquestra. O selo Victor não menciona o nome do conjunto. Mas trata-se de uma boa equipe.

Pelo exposto, esse segundo disco do novo Trio de Ouro merece ser conhecido. Revela o esforço de Herivelto Martins em reconquistar o antigo prestígio do trio, perdido com a retirada de Dalva de Oliveira.



Na foto: Esta é a primeira fotografia do novo Trio de Ouro, constituído por Herivelto Martins, “o chefe”; Noemi Cavalcanti, a substituta de Dalva de Oliveira; e Nilo Chagas, o colored do conjunto. Noemi Cavalcanti é, como se sabe, o novo elemento do conjunto. Sua voz, embora de tonalidade diversa da de Dalva de Oliveira, em certos momentos, lembra a antiga vocalista do trio. Em O Mar, canção do inspirado Dorival Caymmi, e que faz parte do disco objeto das nossas notas de hoje, Noemi tem a oportunidade de demonstrar que sabe cantar com segurança e muita propriedade.

Diário da Noite, 26 de agosto de 1950

VOCALISTA DE PROJEÇÃO

Apesar de ser quase desconhecida do público brasileiro, Jacqueline François é, no momento, considerada a expressão máxima da canção francesa. É ainda muito jovem e impressiona o público que a ouve nos fumarentos cabarés parisienses não apenas pela sua bela e suavíssima voz, senão também pelo seu corpo esculturalmente provocante. Os amantes do disco, entretanto, admiram Jacqueline François apenas pela tonalidade essencialmente gaulesa de sua voz. De nossa parte, tomamos conhecimento da existência dessa magnífica vocalista através de algumas gravações da Polydor, uma das mais prestigiosas gravadoras européias que agira ressurge, pois esteve paralisada desde a segunda conflagração mundial.

Em 1948, Jacqueline François obteve o Grand Prix du Disque, para canções com a sua mais do que convincente interpretação da bela canção Cest Le Printemps, gravada em disco Polydor, cuja etiqueta levou o nº 560.047. a melodia, apesar de muito bonita, é de difícil vocalização, dada a prosódia cerrada, que poderia constituir obstáculo intransponível a uma artista inexperiente. Além do mais, a orquestração a ela imposta, também muito bonita e o excelente acompanhamento executado pela Orquestra de Paul Durante, contribuíram de forma decisiva para que Jacqueline conquistasse tão ambicionado prêmio. Este seu disco foi, assim, considerado excelente, em todos os sentidos.

Jacqueline François
Aliás, se poderia dizer mais ou menos a mesma coisa em relação às gravações que recebemos da Polydor e que nos apresentaram Jacqueline François. Nestes discos ela nos proprociona as canções Bal de Nuit, La Mer, La Vie en Rose, Si Vouz M’aimiez Autant, Pour Lui, Incognito e Marouska, esta uma canção zíngara na qual Jacqueline François demonstra a sua aprimorada veia artística em toda a sua exuberância, através de uma interpretação muito expressiva e impregnada de emoção.

Os amantes da canção francesa não devem deixar de conhecer essas gravações dessa magnífica vocalista gaulesa. Através delas toma-se contato com uma das mais bonitas vozes de mezzo-soprano da França.

Dentro de algumas semanas, segundo despachos de Paris, Jacqueline François deverá viajar para o Brasil, onde realizará uma temporada.

Diário de S. Paulo, 16/7/50
Na foto: Quando da estada em São Paulo dessa espetacular contralto que é Marian Anderson, a Victor reeditou várias gravações suas há muito esgotadas, inclusive o interessante álbum Songs and Spirituals. O interesse do público pela arte de Marian foi tal que nas prateleiras do depósito da aludida gravadora não é possível encontrar-se uma gravação sequer da célebre cantora colored americana. É de esperar-se que a Victor mande reimprimir as melhores ceras de Marian Anderson, especialmente o álbum a que nos referimos, porquanto são poucas as casas onde ainda se pode encontrar um disco da notável contralto.

Diário da Noite, 25 de agosto de 1950

TANGOS

Houve época em que o tango, como o bolero e o baião, atualmente, dominava. Só se cantava tangos, como no momento só se canta e assovia boleros românticos e buliçosos baiões. Carlos Gardel, Francisco Canaro, Francisco Lomuto, Charlo, Ernesto Famá, Tania, Mercedes Simone, Juan de Dios Filiberto, Alfredo de Angelis e outros eram cartazes que todo o mundo admirava e os seus fãs reviravam os olhos ao ouvir uma de suas interpretações. Entretanto, o advento do tango passou. E passou por dois motivos, sendo o principal deles o fato de os compositores transformarem as suas partituras em autênticos dramalhões, cheios de lamúrias, choros e soluços. A outra razão foi a popularidade do bolero que, diga-se de passagem, ultimamente está enveredando, inadvertidamente, para o mesmo caminho do tango, isto é, seus autores começam a insistir em temas dramáticos. Haja vista a última composição do autor de Hipócrita, Carlos Crespo, intitulada Suicídio. Haverá tema tão fora de propósito como esse? Entretanto, Carlos Crespo utilizou-o e, até, deu-se ao luxo de radiofonizar a gravação para imprimir maior realismo ao seu Suicídio.

Entretanto, apesar de o tango não possuir mais aquela legião enorme de apreciadores, ele tem o seu público. Assim, as firmas gravadoras, todos os meses, não deixam de incluir em seus repertórios, uma ou duas gravações, contendo o ritmo argentino.

Charlo (Carlos Pérez de la Riestra)
É para os apreciadores do tango, portanto, a nossa nota de hoje, uma vez que vamos divulgar as novidades do tango, prometidas pelas diversas etiquetas, e a serem lançadas no próximo mês.

Pela orquestra de Francisco Lomuto, a Victor tem programado nada menos de seis discos, contendo as seguintes gravações: Seleções de Tangos, Una Pena, Mi Mejor Canción, Muñequita, Sombras... Nada Más, La Calle Maldita, Mi Moro, Pialando Léguas, Mi Corazón Te Llama e Vivorita.

A Odeon, além dos discos de Gardel, que todos os meses são reeditados, e depois de nos ter dado, no suplemento deste mês, gravações das orquestras típicas de Enrique Rodriguez e Osvaldo Pugliese, incluiu em sua lista de setembro próximo, gravações das típicas de Francisco Canaro e de Rodolfo A. Biagi. O primeiro, com os tangos La Cara de La Luna e La Clavada; e a segunda com o tango Cuando Llora Mi Milonga, tendo na parte vocal Alberto Amor, e a valsa Amor y Vals, vocalizada por Alberto Lago.

Casa Nelson & Nelson

Roldofo Biagi
A Continental, por sua vez, através de gravações da Sond’Or, do Uruguai, já está colocando nas revendedoras, pela orquestra típica de Carusito, os tangos No Puede Perder e Sierra y Miguelete.

A safra de tangos, como se pode verificar, não vai ser tão grande no mês próximo, o que facilitará a tarefa de escolha por parte dos apreciadores do delicioso ritmo portenho.

Na foto: A característica principal das gravações de Rodolfo A. Biagi e sua orquestra típica argentina é o destaque sempre permitido ao seu piano, dedilhado com muito vigor, dando aos tangos que interpreta colorido diverso das demais orquestras típicas portenhas. Um disco do conjunto de Biagi está programado para os lançamentos da Odeon para setembro próximo. Cuando Llora Mi Milonga e Amor y Vals são as melodias que fazem parte desse disco.

segunda-feira, 30 de dezembro de 2013

Diário da Noite, 24 de agosto de 1950

GRAVAÇÃO CURIOSA

A Capitol lançou, já faz um mês, um disco de Les Paul, em solo de guitarra elétrica, no qual ele gravou as melodias Lover e Brasil. Trata-se de um disco curioso. Todos os que o ouvem ficam intrigados, porquanto a etiqueta faz referência apenas a Les Paul e, entretanto, ele parece estar sendo acompanhado por numeroso conjunto de ritmo, no qual julga-se existirem instrumentos ainda desconhecidos do grande público. Entretanto, não há conjunto de ritmo algum acompanhando o solista e, muito menos instrumentos bizarros e desconhecidos. O que houve, na realidade, foi uma bem feita e inteligente fono-montagem. Trata-se, evidentemente, de uma proeza não só do solista de guitarra elétrica mas, também dos técnicos da Capitol. Foi mais ou menos assim que ele executou a aludida gravação. Em primeiro lugar, combinou com os técnicos em realizar seis diferentes gravações, isto é, levaria à cera seis partes diferentes da música. Depois colocando as seis gravações, em pick-up de absoluta precisão, rodadas simultaneamente, levaria as parte tocadas nas seis gravações diferentes, para um só disco. Assim, Les Paul escolheu a melodia Lover, por exemplo, e gravou num disco toda a sua melodia. Num outro disco a harmonia, ou o acompanhamento. Num terceiro, executou variações sobre o tema musical. No quarto, variações sobre a harmonia. No quinto, “uma baixaria”, imitando um contrabaixo. E, finalmente, no sexto disco, em sobreagudo, algumas variações imitando violinos. Gravou, assim, seis discos completamente diferentes. Se ouvíssemos cada um deles, em separado, dificilmente reconheceríamos a música, apesar de se tratar de Lover, uma das mais populares melodias em todo o mundo.

Les Paul
Concluídas as seis gravações, foram elas, como dissemos, levadas ao tocador de precisão, e, rodadas simultaneamente, gravadas numa só cera. E o resultado foi a curiosa gravação que vimos de mencionar. Se bem que este caso, o de se gravar seis discos para, depois, elaborar um, figurando o artista como solista e acompanhantes, seja único, a questão não se reveste de novidade, porquanto numerosos artistas têm feito o mesmo. Enrico Caruso, por exemplo, há tempos, gravou trechos de óperas cantando em dueto com ele mesmo. Beniamino Gigli fez o mesmo. E Jascha Heifetz foi ao extremo de gravar um concerto para dois violinos, ele mesmo executando as partituras de ambos os solistas. Tudo com o mesmo recurso de que lançou mão Les Paul. Dissemos que o seu caso é único porque, realmente, foi ele o primeiro a interpretar seis partes diferentes, isto é, fazendo o papel de solista e do conjunto acompanhante. A propósito, William Fourneau, ao gravar, há poucos dias, para a Continental, com a orquestra de Georges Henry, o fragmento da suíte de Katchaturian A Dança do Sabre, em solo de assovio, desejou, lançando mão do mesmo processo, realizar um dueto e um contra-solo de assovio com ele mesmo. Entretanto, faltaram recursos técnicos e a proeza não pôde ser levada a efeito, o que foi pena, porquanto se fosse feita, a gravação seria bem mais valorizada e seria uma tácita demonstração da capacidade artística de um moço ainda no início de sua carreira. O disco em apreço, portanto, vale pela curiosidade que apresenta. De fato, Les Paul conseguiu efeitos inéditos e absolutos, jamais ouvidos em qualquer outra gravação.


Na foto: Na lista avançada de novidades da Continental, a serem lançadas em setembro próximo, está programado um disco desse homogêneo conjunto vocal paulista que são os Vagalumes do Luar. No aludido disco vamos encontrar o baião de Juraci Rago e Mário Vieira, O Baião Chegou e a toada de Birimbau e Manézinho Araújo, O Pió da Saudade. O festejado quinteto já gravou, também, para a etiqueta dos três sininhos, o samba de Mário Vieira e Orlando Barros (Tavinho), Maluco por Samba.

Diário da Noite, 23 de agosto de 1950

MELODIAS FRANCESAS

Dentre as músicas do agrado do público brasileiro, especialmente do público paulista, a melodia francesa, sem dúvida alguma, goza de largo prestígio. Tanto é assim, que nos suplementos mensais das gravadoras, onde são relacionados os seus lançamentos, figuram, infalivelmente, dois ou três discos gravados pelos mais prestigiosos artistas gauleses. E a aceitação desses discos tem sido tal que os grandes cartazes de França, sabedores disso, já iniciaram uma ofensiva em regra, de temporadas que, afinal, ajuda a venda de suas gravações. Assim é que, iniciando com a vista de Charles Trenet e Georges Ulmer, as temporadas de artistas franceses se sucedem com a visita de Yves Montand, Lucienne Delyle, Jacques Pills, Jean Sablon e, dentro em pouco, de Yvette Giraud. As gravações desses artistas são, com efeito, apreciadíssimas, não fossem eles os mais fiéis representantes da canção gaulesa. Por isso, nos suplementos de setembro próximo das gravadoras nacionais, vamos encontrar discos de todos esses artistas. A Odeon, por exemplo, nos promete, depois de ter colocado na praça discos de Georges Guétary, Marie-José e Tommy Murena, correspondentes ao suplemento de agosto, Emile Prud’Homme e seu conjunto, tendo como vocalista Lucien Jeunesse, interpretando Pigalle e Aconchegado ao Teu Coração; Yves Montand, com Joan Marion e sua orquestra, em Minha Garota, Minha Querida e Um Chopp Pequeno, secundado por Bob Costela e seu ritmo; e Lily Fayol, com Jean Faustin e sua orquestra, na interpretação de Garota dos Bastões Brancos e Na Ópera, secundada pelo conjunto orquestral de Jean Laporte.

Gazeta - Jan/50 - Clique para ver em alta resolução 
A Columbia, por sua vez, programou: É um Rapagão e Sob o Sol de Maio, canções na voz de Lucienne Delyle, acompanhada pela orquestra feminina de Aimé Barelli; Ideal e Fogos Campestres, na interpretação de Tino Rossi, secundado, respectivamente, por Marcel Cariven e sua orquestra e pelo conjunto de Marius Coste.

Por seu turno, a Victor promete quatro discos de Jean Sablon, acompanhado de orquestra: J’Ai Peur de L’Automne e Don’t Take Your Love From Me; Tell Me, Marianne e Lillette; I’ll Stop Loving You e Son Voile Qui Volait; Berceuse e Utrillo, são os títulos das gravações. Nada menos de seis discos de Yvette Giraud foram programados pela Victor que, naturalmente, previu a sua visita ao Brasil: Ivan, Ivanine e Ange ou Demon; Dans La Foret e Maitre Pierre; Render De Vous e Joue Contre Joue; Jolicoeur e La Danseuse Est Créole; Je Te Serai Fidéle e Ukraine; Rest Encore e La Chambre, são os nomes das canções. Todas estas melodias são cantadas pela suave vocalista, acompanhada de orquestra, através de bonitas orquestrações. Apenas um disco de Alys Robi foi incluído no suplemento Victor: Nuit Et Jour, adaptação da melodia de Cole Porter, Night and Day, e Chianpanecas, são as partituras que completam o disco.

Diário da Noite, 12/7/50 - Clique para ver em alta resolução
Diário da Noite, 9/8/50
Não recebemos a lista avançada da Continental. Entretanto, em seu suplemento do corrente mês, conforme tivemos ocasião de noticiar, a etiqueta dos três sininhos incluiu e já colocou nas revendedoras, Ma Chambre Bleu e Prelude, na voz de Michel Allard; Merci e Une Femme Par Jour; Parce Que Ça Me Donne Du Corage e Tout Ça, foxes na voz de Jacques Pills, secundado por sua orquestra. Aliás, estas gravações de Jacques Pills, especialmente Merci, merecem ser conhecidas, não apenas pela interpretação do vocalista como pelas deliciosas orquestrações que possuem.

Como se vê, o público paulista, que tanto gosta de boleros e baiões, mas tem uma predileção especial pela canção francesa, dispõe de farto material para escolher.

Na foto: Yves Montand, que todos esperamos realizasse uma temporada em São Paulo, não o fará. Seu contrato com a boate e com a rádio-emissora do Rio de Janeiro já se findou e o apreciado chansonier parisiense já voou rumo a Paris. Entretanto, aos seus fãs, resta o consolo de saber que um novo disco seu está sendo prometido, para o mês próximo, pela etiqueta Odeon, contendo as seguintes melodias: Minha Garota, Minha Querida e Um Chopp Pequeno. Secunda-o, na primeira melodia, a orquestra de Joan Marion; e, na segunda, o conjunto de Bob Costela.

Diário da Noite, 22 de agosto de 1950

TÓPICOS E NOTÍCIAS

Os artistas do disco já estão em grande atividade, selecionando as composições carnavalescas que lhes têm sido entregues, a fim de levá-los à cera. Dizem que é copiosa a safra de “abacaxis” para este ano, e os artistas não desejam “queimar” inutilmente as suas cotas nas gravadoras. – A Elite, que lançou com tanto sucesso as primeiras gravações de Neyde Fraga, não pretende gravar músicas carnavalescas com a estrelinha paulista, a fim de “não estragá-la”. Roberto Amaral e os Demônios da Garoa é que vão formar a linha de frente carnavalesca da gravadora da rua Major Quedinho. – Maria Kareska, o apreciado soprano eslavo, que já realizou várias gravações para a Continental, está programada para fazer mais algumas gravações para a etiqueta dos três sininhos. Olhos Negros, a popular canção eslava, é uma das páginas que Maria Kareska levará ao disco na sua curiosa voz. – Dois discos de Isaura Garcia vêm de ser colocados nas revendedoras pela Victor: Diga-me a Verdade, samba de Herondino Silva e Augusto Mesquita, e Velho Enferrujado, choro de Gadé e Walfrido Silva, fazem parte de um disco; Pé de Manacá, baião de Hervé Cordovil, com palavras de Vicente Leporace, completam o outro. O primeiro disco encerra duas composições bastante fracas, com a estrela paulista fazendo tudo para se safar sem arranhar o seu cartaz. Já o segundo tem duas músicas de bom padrão, especialmente o samba Pode Ficar. Em Pé de Manacá foi uma pena que o autor se tenha arvorado em cantor. Sua voz, além de fosca, não combina bem com a de Isaura. Se o disco fosse gravado com outra voz masculina teria saído melhor.

Folha da Noite, 1948
– A Elite programou, para setembro próximo, o lançamento do disco do Trio Mineiro, em que se acham gravadas as composições Chapéu de Couro, de J. Bruno de Carvalho, e Fazendeiro, também de J. Bruno de Carvalho em parceria com Oliveira e Rangel. – Por ocasião da inauguração oficial das instalações da sua fábrica, quinta-feira última, a Odeon distribuiu aos convidados um interessante folheto ilustrado, no qual, além da descrição das atividades da firma em todo o mundo, fomos encontrar uma interessante história do disco no Brasil. – Yvette Giraud, a vocalista francesa que tantas gravações interessantes nos tem proporcionado, ao que se anuncia, virá ao Brasil. São Paulo e Rio, naturalmente, aplaudirão a festejada cantora gaulesa. – Gregorio Barrios, que vem de terminar sua temporada artística no Rio de Janeiro, após um retumbante sucesso em São Paulo, gravou, não faz muito, na Argentina, o bolero Ay de Mi, um dos grandes sucessos de Fernando Albuerne, para a Odeon.

Rubens Peniche
A edição nacional de Ay de Mi, na voz de Gregorio, ainda não saiu. Entretanto, tendo aparecido por aqui algumas gravações importadas, os telefones da Odeon, ao que nos informaram, não cessam de tocar consultando sobre quando sairá a edição nacional da aludida gravação. Minha Santa, baião de Peter Pan e Ary Monteiro, e Fidelidade, samba de Herivelto Martins, são as composições que fazem parte do último disco de Gilberto Alves para a Victor.

E é tudo por hoje.

Na foto: Eis aqui um artista que dispensa apresentação. De fato, Rubens Peniche é um dos mais categorizados vocalistas da nova geração. Atua com crescente sucesso ao microfone de uma das nossas emissoras. A Continental, em seu suplemento de setembro próximo, programou um disco do cantor colored de São Paulo, em que estão gravadas as melodias Dança da Nobreza, mazurca de José Assad (Beduíno) e Pique Será, valsa de roda de autoria do mesmo compositor.

Diário da Noite, 21 de agosto de 1950

NOTAS

Colhidas especialmente para os leitores deste cantinho de coluna, aqui estão algumas notas relacionadas com o mundo dos discos:

Assoalha-se nos meios artísticos que duas novas empresas gravadoras vão surgir em São Paulo. Adianta-se mesmo que, uma delas, será de iniciativa dos irmãos Vitale, antigos editores musicais e conhecedores do metiér. Com alusão à outra, nada transpira, parecendo que os seus organizadores conservam sigilo que, afinal, é o segredo do sucesso. – Ao que tudo indica, entretanto, trata-se de apenas duas novas marcas e não de duas novas fábricas, a exemplo dos Estados Unidos, onde existe quase uma centena de marcas para um número reduzido de fábricas. – Conforme noticiamos, com a presença de numerosos convidados, a Odeon inaugurou, quinta-feira última, solenemente, as instalações de sua fábrica no município vizinho de São Bernardo do Campo. Em palestra com mentores da gravadora, encarecemos a necessidade da montagem de um estúdio em São Paulo, a fim de evitar viagens desnecessárias dos artistas de São Paulo ao Rio quando têm que gravar. Tivemos, então, a grata notícia: uma das próximas iniciativas da etiqueta vai ser precisamente a montagem de um estúdio moderno, de grandes proporções. Isso, adiantaram-nos, será breve, muito mais breve do que se poderá imaginar. O local será cientificamente escolhido, isto é, distante de ruídos e vibrações, sendo bem provável que a escolha recaia ali mesmo, em São Bernardo do Campo.

Vaughn Monroe
– A mais interessante interpretação da melodia de Lange, Heath e Glickman, do filme Audácia dos Fortes, intitulada Mule Train, vem de ser colocada, em gravação Victor, nas revendedoras. O intérprete outro não é senão o apreciado Vaughn Monroe, secundado pela sua própria orquestra. – A Continental, como se sabe, já iniciou a distribuição, através da responsabilidade do seu selo, as gravações da Mercury americana. Entretanto, ao que soubemos, não só a Mercury terá as suas melhores gravações editadas no Brasil, senão também várias outras etiquetas dos Estados Unidos, como a Celebrity, Discovery e Aladin. O melhor dos catálogos dessas etiquetas vai ser editado no Brasil pela “Simar”. – Causou a mais lisonjeira das impressões a homenagem da Odeon à memória de Carlos Gomes, fazendo distribuir a todos os que compareceram à inauguração de sua fábrica uma gravação da Sinfonia de O Guarani, num arranjo para piano e orquestra de Francisco Mignone, tendo como solista Heriberto Muraro.

Palmeira & Luizinho
– Anunciam despachos de Nova York que Benny Goodman acaba de rescindir contrato com a Capitol, voltando para a Columbia. Adianta-se que o famoso clarinetista e band leader não estava satisfeito com o selo da Sunset & Vine, porque ultimamente, a empresa, a exemplo do que vem fazendo com Woody Herman, há mais de seis meses que não incluía uma gravação sua nos suplementos. – A Victor que, não faz muito, lançou uma gravação da orquestra de Tommy Dorsey, interpretando um arranjo moderno do segundo movimento da 6ª Sinfonia de Tchaikowsky, a Patética, lançou esta semana uma gravação da notável orquestra de Freddy Martin com um arranjo sobre o mesmo tema. Ambas as gravações, pelos magníficos arranjos, merecem ser ouvidas. – A Star, da qual tão pouco ouvimos falar, vai inaugurar, ainda este mês, em Jacarepaguá, no Rio de Janeiro, a sua nova fábrica. – Está sendo muito procurada, pelos amantes do gênero, a gravação dos violeiros Palmeira & Luizinho, feita para a Continental, intitulada Paraná do Norte.

E por enquanto é só.

Na foto: Há muito que Wilson Roberto aguardava uma oportunidade para gravar. A Odeon deu-lhe a chance, lançando-o com duas boas composições que fazem parte do disco que está sendo colocado nas revendedoras e que está incluído no suplemento do corrente mês. São elas: Brasil Romântico, samba de Lauro Muller e Hubaldo Silva, e a versão brasileira do mambo de Bob Capo Amor e Mais Amor, feita por Haroldo Barbosa. É de augurar-se para o jovem cantor um grande sucesso com esta sua gravação de estréia.

domingo, 29 de dezembro de 2013

Diário da Noite, 19 de agosto de 1950

A VISITA DO BAIÃO

Sim, podemos dizer assim, quando recebemos a amável visita de Luiz Gonzaga, porquanto ele personifica, não há dúvida, o baião. Pois o baião deu-nos o prazer de sua gentil visita, a fim de trazer os seus agradecimentos a referências a ele feitas quando de comentários que tecemos sobre gravações suas. Como se tivesse algo que agradecer!

Luiz Gonzaga é a modéstia personificada. Não deseja que focalizemos em demasia o seu nome, pondo em plano secundário os compositores, parceiros seus nas músicas que tem levado ao disco. “Quando comentar” – disse – “esqueça-se do Luiz Gonzaga. Os autores, meus parceiros, é que merecem ser lembrados. A eles e a Deus, Nosso Senhor, é que eu devo o cartaz que estou desfrutando”. Essa pequena frase representa toda a personalidade do artista. Enquanto alguns ficam “queimados” com o cronista porque, sem o querer, inadvertidamente, o colocou em segunda plana, Luiz Gonzaga, ao contrário, pede para que nos esqueçamos dele, em benefício dos compositores!

O criador e o maior divulgador e intérprete do baião, por ocasião da visita que nos fez, obsequiou-nos com uma foto sua, com lisonjeira dedicatória, e com a sua última gravação para a Victor, a qual será lançada em princípios do mês vindouro. Nesse disco vamos encontrar, na face A, a mazurca Chofer de Praça, de Ewaldo Rui e Fernando Lobo, e No Ceará Não Tem Disso Não, de Guio Morais.


Luiz Gonzaga contou-nos que é seu desejo dar oportunidade a jovens compositores que se dedicarem ao baião, acrescentando que o caso de Guio Morais é típico. Disse tratar-se de um compositor ainda moço, com pouco mais de 20 anos, mas profundo conhecedor da arte musical, violinista, pianista e regente de largos recursos; magnífico orquestrador, sendo responsável pela grande maioria dos arranjos orquestrais dos baiões executados pelas mais diversas orquestras do país.

Assim, adiantou Luiz Gonzaga, além das músicas dos seus clássicos parceiros, Zé Dantas e Humberto Teixeira, futuramente, além dos baiões de Guio Morais, outros, de compositores ainda desconhecidos, surgirão, para a alegria daqueles que gostam do buliçoso ritmo extraído do folclore nordestino.

Com alusão à gravação que nos foi oferecida, gostamos mais, realmente, do baião de Guio Morais, por ser mais movimentado e de ritmo mais acentuado e onde Luiz e sua sanfona estão mais à vontade. Chofer de Praça, uma homenagem aos motoristas, embora mais lento, pois se trata de uma mazurca, é possuidora de uma letra muito curiosa, chistosa e com boa dose de malícia. Inédito o efeito daqueles diálogos entre o motorista (Luiz) e os passageiros.

O disco em apreço, assim, vai ser, temos a certeza, mais um barulhento sucesso do homem dos baiões, nosso amigo, o modesto Luiz Gonzaga.

Diário da Noite, 18 de agosto de 1950

NOVIDADES

As firmas gravadoras já iniciaram as remessas de suas circulares às revendedoras, relacionando as novidades em discos a serem lançados na segunda quinzena de setembro próximo. A fim de que os leitores de “No Mundo dos Discos” fiquem a par dessas novidades, vamos resumir aqui os suplementos avançados das diversas etiquetas:

A Odeon, por exemplo, no repertório nacional, nos promete gravações de cartazes como Francisco Alves, Safira, ex-vocalista da orquestra de Carioca; Alcides Gerardi, Dalva de Oliveira, Risadinha, Zé Gonzaga, irmão de Luiz, o homem dos baiões; Vocalistas Tropicais, Muraro e, finalmente, Garoto e o seu espetacular bandolim. Francisco Alves nos dará uma nova versão da valsa de José Maria de Abreu e Francisco Matoso, já gravada por ele mesmo há muito tempo, intitulada Boa Noite, Amor, e a versão brasileira da canção de Bixio, Na Estrada do Bosque, que tanto cartaz deu a Gino Bechi. Safira, dona de uma voz bastante interessante, nos proporcionará o maracatú de Jorge Tavares e Geraldo Medeiros, Dance o Maracatú e o samba de Luiz Soberano e Jorge Gonçalves, Nosso Lar. Por sua vez, Alcides Gerardi, que no último suplemento nos deu uma bela versão do samba Maria, de Ary Barroso, secundado pelo coro dos Apiacás, nos oferece um fox e um samba, respectivamente intitulados Um Mês é Muito Tempo, de Iraní de Oliveira e Euclides Silva, e Jardim Sem Flor, de Waldemar Silva e Mary Monteiro. Secundada pela homogênea orquestra de Oswaldo Borba, Dalva de Oliveira comparecerá com mais um samba da absurda polêmica entre ela e seu ex-marido, Herivelto Martins, intitulado Errei, Sim, que leva a assinatura de Ataulfo Alves, e o samba de Alvarenga e Ranchinho, Segundo Andar. Risadinha, o simpático vocalista colored de São Paulo, está presente com um samba e um samba-choro: Comerciária e Vê Se Te Agrada, respectivamente de Carvalhinho e Mário Rossi, e Haroldo Lobo e Milton de Oliveira.

O compositor Abelardo Barbosa,
mais tarde o grande Chacrinha
Disco Voador e Alencarina Bonita, de Abelardo Barbosa e José Gonçalves, e José Amâncio e José Januário, um choro e um balanceio, respectivamente, é o que Zé Gonzaga e sua sanfona nos irá proporcionar. Quem é que Não Sente? e Desculpa, de Ataulfo Alves e Waldemar Teixeira, são os dois sambas que os Vocalistas Tropicais nos vão trazer. O Baião e o Moto Perpétuo com Muraro e grande orquestra, lançados com antecipação, já foram objeto de considerações por esta coluna. Garoto, o endiabrado bandolim que tantos admiram virá com o samba de Benedito Lacerda, Dinorá e com a valsa de Atílio Bernardini, Beira-Mar. Isso no que diz respeito à parte nacional. Longa é a lista das gravações internacionais da Odeon da qual se destaca o disco de Anton Karas, em solo de cítara, interpretando O Terceiro Homem e Valsa do Café Mozart, ambas as composições do filme O Terceiro Homem, que tanto sucesso vem alcançando na Europa, precisamente por causa dessas duas músicas, que são de autoria do próprio Anton Karas, que, nele, executou o solo.

Palácio da Música
Por seu turno, variadíssimo é o suplemento nacional da Victor. Assim é, que, encabeçando a lista, vamos encontrar a segunda gravação do novo Trio de Ouro. Paisagem Paulista e O Mar, um samba e uma canção, é o que ele nos oferecerá. Restinho de Amor e Beleza dos Teus Olhos, são os sambas que Nelson Gonçalves nos vai trazer. Migalhas e Copo D’Água são os títulos dos sambas que Linda Batista nos promete. Carlos Galhardo, com Foi Um Sonho e O Resto É Silêncio, uma valsa e um samba-canção, está presente na lista. Composições nas vozes de Gilberto Milfont, Isaura Garcia, Gilberto Alves, Quatro Ases e Um Coringa, Luiz Gonzaga, etc., também fazem parte do suplemento de setembro da Victor e só não o relacionamos aqui por absoluta falta de espaço.

Ainda não recebemos as listas da Elite, Continental, da Capitol, razão por que deixamos de a elas fazer referência. A lista da Columbia, bem assim a da Cetra, serão focalizadas juntamente com as demais, tão logo a recebamos.

Aníbal Augusto Sardinha, dito Garoto
Na foto: “Garoto” tem esse cognome porque começou muito cedo a atuar no rádio. Era realmente um garoto quando enfrentou, pelas primeiras vezes, os microfones. Hoje, todavia, ele já não é um garoto, como se pode notar pela fotografia. Já se notam sinais do tempo e seu rosto. Entretanto, “Garoto” continua sendo tão ágil nos dedos, ou mais, como nos seus tempos de garoto. Suas gravações são verdadeiras lições de bandolim e os admiradores desse interessante instrumento não perdem uma sequer, tão logo sejam colocadas nas revendedoras. Uma gravação de “Garoto” faz parte do suplemento Odeon de setembro próximo.

Diário da Noite, 17 de agosto de 1950

BOAS NOVAS

Temos em mão o suplemento Columbia para o mês próximo. Ainda não tivemos ocasião de ouvir as provas dessas gravações, embora, algumas delas, já serem do nosso conhecimento, através da edição original americana.

Digno de nota no aludido suplemento é o Triple Concerto, de Beethoven, interpretado por Ricardo Odnoposoff, violino, Stefan Auber, violoncelo e Angélica Morales, piano, secundados pela Orquestra Filarmônica de Viena, sob a direção de Felix Weingartner. Os amantes das obras beethovianas, certamente irão se deliciar ao ouvir este notável tríplice concerto do imortal compositor alemão.

Ainda na referida lista, na parte de páginas clássicas, vamos encontrar, interpretados pelo pianista Sigi Weissenberg, o Noturno Para Mão Esquerda, opus 2, de Scriabin, e a Sonata nº3, de Prokofiev, duas das mais representativas obras dos grandes mestres.

Sir Malcolm Sargent, que há pouco tempo conquistou a admiração do público do Distrito Federal, regendo a Orquestra Sinfônica Brasileira, também gravou para a famosa etiqueta, regendo a Filarmônica de Liverpool, o famoso Capricho Espanhol, de Rimsky-Korsakov.

Turnê européia de
Ricardo Odnoposoff, em 1948
Por seu turno, Artur Rodziński, regendo a Filarmônica-Sinfônica de Nova York, gravou a suíte Quebra-Nozes, de Tchaikowsky; e André Kostelanetz, dirigindo a sua Orquestra de Concertos, fez o mesmo com o Assassinato na Décima Avenida, de Richard Rodgers, muito divulgada através da gravação de Paul Whiteman, para a Victor, aliás, a primeira gravação dessa interessante página descritiva.

Isso com alusão à parte clássica do aludido suplemento. Na parte popular, vamos ter páginas nas interpretações de artistas como Doris Day, Harry James, Herb Jeffries, o saudoso Buddy Clark, Dinah Shore, Quarteto de Café de Viena, Les Brown, Frankie Carle, Maria Alma, Trio Los Panchos, Lucienne Delyle, Tino Rossi e Franco Ricci.

Palácio da Música
Cumpre destacar aqui a gravação de Herb Jeffries, secundado pela Orquestra de Hugo Winterhalter, na qual ele vai despertar saudades em muita gente, ao cantar a Canção do Amor Pagão, de Nacio Herb Brown e Ralph Freed, há tantos anos cantada pelo então galã, Ramon Navarro, em seu filme Pagão.

Felix Weingartner
Também o saudoso Buddy Clark, morto, como todos sabem, em circunstâncias trágicas, num desastre aviatório, merece atenção, porquanto estas são umas das suas últimas gravações: Fácil é Amar, a conhecida página de Cole Porter e Façamo-lo, também de Cole Porter são as canções que Buddy Clark nos proporcionará, cantando com Dinah Shore, secundados pelo conjunto de Harry Zimmerman.

Como se vê, a prestigiosa etiqueta esmerou-se em seu suplemento para setembro, especialmente no que diz respeito à música erudita.

Na foto: Felix Weingartner foi o responsável pela regência da Orquestra Filarmônica de Viena, na gravação do Tríplice Concerto, de Beethoven, de que são solistas Ricardo Odnoposoff, violino; Stefan Auber, violoncelo; e Angélica Morales, piano. O álbum, com cinco discos, contendo essa monumental obra de Beethoven, faz parte do suplemento Columbia para setembro próximo.

Organização Recorde