quinta-feira, 2 de janeiro de 2014

Diário da Noite, 1º de setembro de 1950

AINDA VILLA-LOBOS

Não faz muito, focalizamos neste canto de coluna, várias gravações de obras de Heitor Villa-Lobos, levadas a efeito nos Estados Unidos, pela Columbia, e na Suíça. Isso vem revelar que o fecundo e inspirado maestro brasileiro vem de ser “descoberto”, tanto pelo público europeu como pelo norte-americano. Tanto é assim, que enorme é o interesse das gravadoras, especialmente da Columbia e da Capitol, pelas obras do querido mestre. Ainda agora, por exemplo, a Columbia (americana) gravou, em execução da famosa Philarmoni-Simphony Orchestra of New York, sob a direção de Efrem Kurtz, a partitura do bailado Uirapuru, de Villa-Lobos, numa interpretação – segundo os mais categorizados críticos de discos – das mais soberbas e fiéis, observando-se a segurança da regência de Efrem Kurtz.

Recorda-se que, na Suíça, a pianista canadense Ellen Ballon gravou o primeiro Concerto de Villa-Lobos, para piano e orquestra, composição essa, aliás, dedicada à pianista quando ela esteve no Brasil realizando uma série de concertos. As notícias referentes a essa gravação dizem tratar-se de uma obra impecável. Todavia, não mencionam a etiqueta da fábrica que levou a efeito a empresa. Seria a Elite? Se foi, aqui vai o nosso lembrete aos diretores da Elite nacional. Valeria a pena realizar a edição nacional da gravação em apreço, porquanto se trata de um dos mais belos concertos para piano e orquestra e a gravação suíça está isenta de defeitos.

Efrem Kurtz
Por outro lado, a Decca (inglesa), através do seu último suplemento, está anunciando várias gravações de obras de Villa-Lobos, o que demonstra que também os ingleses acabam de “descobrir” o nosso compositor. Coube ainda à pianista canadense Ellen Ballon realizar as gravações para a Decca. As peças escolhidas foram: Pobre Cega e O Pintor de Cannahy; A Maré Encheu e Passa, Passa, Gavião. Foi com simpatia que a crítica especializada recebeu as gravações em apreço, embora alguns comentaristas britânicos tenham se revelado de uma santa ignorância no que diz respeito à obra do autor patrício, chegando mesmo a dizer ser frisante a influência espanhola nas páginas de sua pena...

Temos a esperança de que tais gravações, não demore muito, cheguem até nós para podermos admirá-las de perto, especialmente a do Concerto nº1 que, por certo, a Elite nacional por ele se interessará, posto que a gravação foi executada na Suíça, onde está instalada a matriz da aludida gravadora. Por enquanto, resta-nos a satisfação de saber que a arte de Villa-Lobos já começou a chamar a atenção das mais cultas platéias do mundo, através do disco.

Heitor Villa-Lobos em 1955
Na foto: Que Heitor Villa-Lobos vem de conquistar a admiração das mais cultas platéias do mundo, já não resta a menor dúvida. A prova está no interesse ultimamente demonstrado pelas gravadoras inglesas e americanas às suas obras. É sempre com satisfação que registramos o aparecimento de novos discos com gravações de partituras do festejado compositor patrício.

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