sexta-feira, 30 de maio de 2014

Diário da Noite, 21 de setembro de 1950

OUTRO SUCESSO

Lúcio Alves é, no momento, o mais admirado intérprete de melodias populares brasileiras, do punhado de novatos que apareceu ultimamente.

Não que Lúcio seja neófito no rádio, porquanto já faz algum tempo que ele atua nas emissoras cariocas, integrante que era de um conjunto vocal já desfeito. Entretanto, começou a cantar só, relativamente há pouco tempo. Custou a descobrir a beleza de sua voz e que o seu estilo agradava em cheio o grande público.

De fato, Lúcio Alves, sobre possui um timbre vocal todo especial, criou um estilo, uma forma nova de cantar o nosso samba. Há quem afirme que ele imita Dick Farney. Entretanto, se se fizer uma comparação do estilo de ambos verificar-se-á que a assertiva não procede. A confusão, naturalmente, reside no fato de ambos não cantarem alto, preferindo vocalizar as melodias, sempre escolhidas com gosto e magnificamente orquestradas, quase aos sussurros.

A Continental vem de colocar nas revendedoras mais um disco do jovem cantor, em que ele nos oferece dois bonitos sambas: Amargura, de Alberto Ribeiro e Radamés Gnatalli e Tudo Acabou, de Gilbert Milfont e Milton de Oliveira. Trata-se de duas inspiradas composições, quer no que diz respeito à música ou às palavras. Em Tudo Acabou há um momento em que o cantor tem que transportar a voz, inesperadamente, de uma nota baixa para outra bem alta, dando a impressão de desafinação, o que não acontece, posto haver sido escrita assim mesmo para que fosse conseguido o efeito que, realmente, causa aos ouvintes e, mais, embelezando a melodia.

Lúcio Alves
Acompanha Lúcio Alves um pequeno conjunto orquestral dirigido por “Vero”, que outro não é, como já tivemos ocasião de revelar, o maestro Radamés Gnatalli, um dos mais competentes musicistas do Brasil. Muito bonito o solo de piano executado pelo próprio “Vero” que, em certo trecho, ganha destaque na feliz orquestração por ele mesmo escrita.

A face oposta Amargura, embora figure como face A, nos pareceu de nível inferior a Tudo Acabou, o que não quer dizer seja música sem qualidades. Pelo contrário. Como dissemos, ambos os sambas tiveram grande inspiração, porém, nos impressionou melhor o constante da face B do disco em apreço.

Pelo exposto, Tudo Acabou e Amargura vão constituir mais um grande sucesso de Lúcio Alves e, principalmente, da Continental, que editou o disco.


Na foto: Carmen Cavallaro, sem favor nenhum, é dos pianistas populares mais admirados em todo o mundo. Suas gravações são grandemente procuradas, sobretudo pelos espetaculares arranjos de partituras clássicas ou pelos suavizantes solos de melodias típicas de todas as nações. Suas mais recentes gravações, lançadas em disco Odeon, são: Música! Música! e Oh! Catarina, respectivamente de Stephan Weiss e Richard Fall. Acompanha-o sua própria orquestra.

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