sábado, 31 de maio de 2014

Diário da Noite, 29 de setembro de 1950

CORRESPONDÊNCIA A PEDIDO

Várias têm sido as cartas endereçadas a esta seção por amáveis leitores do interior. Impossibilitados de responder um a um a todos esses amigos, desejamos deixar registado aqui os nossos melhores agradecimentos pelas palavras de estímulo. Um agradecimento em especial, entretanto, queremos deixar patente ao Dr. Wilson Bussada, de Jaboticabal. Foi excessivamente gentil em suas considerações.

E já que estamos fazendo referência à correspondência a nós dirigida, vamos atender a um pedido feito pela Srta. Maria Dulce Setúbal, de Itapetininga, no sentido de traçarmos o perfil artístico do bolerista Gregorio Barrios.

Gregorio Barrios, Maria Dulce, não é mexicano, como muita gente supõe. Nem tão pouco argentino, como pensam outros. Nasceu em Bilbao, Espanha, no ano da graça de 1911. Já exerceu muitas profissões. Entretanto, só em 1934 descobriu que possuía uma voz privilegiada, da qual, por sinal, anda descuidando ultimamente, do que dá prova a sua última gravação, Hipócrita. Desde 1938 reside em Buenos Aires, onde estudou canto. Pouco depois, estreou no broadcasting portenho e, em cantou com grande orquestra no Teatro Colón, que é, como se sabe, o Municipal da capital portenha. Realizou, mais tarde, uma excursão por toda a América Latina, tendo atuado, em diversas temporadas, nas emissoras da capital da República e de São Paulo.

Gregorio Barrios
O primeiro disco do festejado vocalista hispano-argentino – como é apresentado por inúmeros locutores – foi Palabras de Mujer, gravado em 1945. Seguiram-se Dos Almas, Una Mujer, Inutilmente, Somos, Final, Fué en Buenos Aires, Maria Bonita, Palida Canción, Hipócrita, Necessito Verte, Ay de Mi, este último ainda não lançado no Brasil. Todas essas gravações foram realizadas para o selo Odeon, do qual é artista exclusivo.

Uma das coisas que Gregorio Barrios mais aprecia é a poesia. Gosta de declamar e recita tão bem quanto canta. Seu autor preferido é García Lorca, cujos versos Gregorio sabe na ponta da língua. Não é exagerado no trajar-se, embora envergue boa roupa e muito bem talhada. Parece que não gosta muito de freqüentar o barbeiro, pois ostenta, invariavelmente basta cabeleira, à qual besunta com excessiva brilhantina. Fuma muito, o que já está prejudicando a sua voz. É míope. Mas usa óculos do último modelo, isto é, daqueles que se adaptam diretamente ao glóbulo ocular, muito em voga, no momento, nos Estados Unidos.

Disponha, Maria Dulce.


Na foto: Gregorio Barrios, cujos traços biográficos apresentamos hoje, atendendo a uma solicitação de amável ouvinte de Itapetininga, apesar de andar descuidando um pouco da conservação de sua bela voz, fumando em excesso, continua sendo o bolerista nº1, quer pelo seu real valor artístico, quer pela preferência do público pelas suas audições radiofônicas ou pelos seus discos, que, invariavelmente, atingem vendas “recordes”.

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